Não sei como diferenciar pato de marreco. Quantas pessoas no mundo sabem?
Vejo o animal agachado, com os pelos cobrindo as patas, e sequer tenho ideia se são mesmo pelos ou penas. O bicho é um mistério. Mas ninguém se interessa de fato, então chama de pato. Porque marreco é o pato mais alguma coisa. É um pato que se deu bem na vida, é um pato que foi morar em Londres, é um pato pós-graduado em linguística. Pato não. Pato é apenas pato, ridículo e simplório.
Esta tarde vi um exemplar da espécie. Tenho certeza que era pato - e não marreco - pela expressão de derrota na cara dele. Era um olhar triste, desiludido, de quem está sem forças para continuar fazendo o que sempre faz. E o que um pato faz, além de existir enquanto pato? Qual o fardo, qual a cruz que ele carrega? Inveja do marreco?
Saindo do meu devaneio, voltei a olhar as pessoas e seus cafés descafeinados. Estava numa cafeteria, lugar de gente feliz (como diria o slogan daquele shopping). Mas todo mundo carregava amargura na expressão. Fui cercado por pedidos de socorro silenciosos, ora exarcebados pela falta de brilho nos olhos, ora atenuados por dentes que fingiam sorriso.
Então percebi. O dia estava triste junto com o pato.
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