Quando o povo se emburaca em suas tocas
e são apagadas as fluorescentes do corredor,
sinto comichões de felicidade na beira do estômago.
Passa de meia noite. Enfim, é madrugada,
meu turno preferido desde a criancice.
Lá estou eu, com meus 8, 9 anos,
indo dormir na casa de um amigo.
Mal subiam os créditos da novela
e nós já estávamos com copos de leite nas mãos,
nos preparando para os edredons.
A mãe da casa era bem tradicional;
de mãos juntas, à beira de nossas camas,
rezava alguma coisa em voz alta.
(Nessa época eu ainda não era ateu,
e meu amigo não tinha problemas mentais)
Passada a cerimônia,
ela se recolhia para o mundo dos adultos,
para a nossa satisfação.
De joelhos nas camas,
nos debruçávamos na imensa janela do quarto,
de onde se via toda sorte de gabirus,
gatos vira-latas e, é claro,
elas - estrelas da madrugada -, as prostitutas.
Passávamos horas ali, não só admirando o mundo,
mas trocando impressões sobre ele;
- Aquele rato deve pesar uns três quilos!
- E a puta mais cara deve ser a de preto.
Anos depois, o sujeito que era meu amigo
dorme bem cedo, com ajuda de remédio controlado.
Enquanto eu, boêmio, sigo fascinado pela madrugada,
averso a putas e com saudade dos ratos.
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