quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Experimente andar com meus sapatos

Revoluções parecem repentinas. Da noite para o dia, gritos, baderna, protestos. Do dia para a noite, balas de borracha, bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo. Mas toda revolução é fruto de uma semente que germina dentro da gente, seja por um mês, por um semestre, por décadas. A cada muxoxo, a cada desabafo na mesa do bar, a cada abraço apertado, tomamos um pouco de ciência de que algo acontece em nosso coração, independente de estarmos em um dos cruzamentos mais famosos de São Paulo. Revoluções acontecem na cozinha de nossas casas, na baia de um funcionário público, no passeio do casal na roda gigante. Porque revoluções são filhos que gestamos por muito tempo, em uma gestação de angústia e insatisfação. De repente, quer queira quer não, é chegada a hora do parto, e somos tomados por alteregos revolucionários, que arrebentam a placenta por contra própria e cospem o líquido amniótico da raiva na cara de suas vítimas. Perdemos o controle, como nós o conhecemos, e sentimos a sensação de estar no controle como nunca estivemos antes. Na falta de hinos e gritos de guerra, bravejamos canções pop que nos dizem, entre outras coisas, que tudo é dor e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor. Microrevoluções em nossas vidas pessoais são gritos que clamam por justiça, bem estar, felicidade. Mas nossos alteregos emudecem, consternados, e lançam coqueteis molotov no próprio destino. Queremos o fim do nosso eu futuro, da mediocridade entranhada em nós, da obediência burra. Lutamos pela morte ou por outra vida que seja menos isso, mais aquilo. A quem não nos compreende, cantemos a eles "walk a mile on my shoes".

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