segunda-feira, 14 de maio de 2012

A existência da escuridão

Confusão mental que se instala por tudo e por nada. Basta um par de solicitações para se perder o corrimão na descida da escada que dá voltas em torno de si mesma, criando espiral de degraus minúsculos, que não cabem  meus pés, que não suportam meu peso, minha fragilidade. E despenco, aos solavancos, contando a velocidade em porradas por segundo, dessas que ninguém bate, dessas de quando se chuta a quina do móvel, ou se esmurra a parede, ou se corta com papel. É como se nada estivesse no lugar, e por isso se torna inevitável esbarrar nos incontáveis obstáculos que se transformaram as pequenas grandes coisas de sempre. E tudo exige esforço extra, há excesso de consciência no processo de respiração (talvez por isso, em qualquer descuido falta-me ar). Se não há equilíbrio, se não há caminho seguro, se não há capacidade de manter-se erguido, penso se não seria o caso de partir, de buscar caminhos menos tortuosos, sem grandes benefícios ou obstáculos, sem grandes desafios ou recompensas. Sofrer pelo chão que se pisa parece-me um fardo demasiadamente grande para carregar. Há opções, sempre há opçõēs, e traio a mim mesmo ao não enxergá-las, ao não aproveitá-la, a despeito de minha visão turva e parcial dos acontecimentos. Por vezes sinto-me sugado pela abstração alienante da posição que (equivocadamente?) ocupo. Não há mais-valia, não há produtividade significativa, não há sentido continuar de punhos abotoados para fingir que algo importante acontece a minha frente. Nada acontece, em absoluto. E de punhos e dentes cerrados, estremeço diante do insucesso de minhas apostas, do desmoronamento de projetos. Da vida, enquanto projeto, do fracasso, enquanto percurso a ser evitado. O mundo inteiro, toda a existência, tudo que se move e o que já deixou de se mover,  todas as coisas, todos os acontecimentos, tudo foi vítima de filtro escuro e embassado. E se a percepção muda, muda de fato o que é percebido. Nada nem ninguém é isento de culpa. Se vejo a escuridão, a escuridão existe.

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