domingo, 27 de maio de 2012

Drama e suspense de hoje são romances de amanhã

Chove forte neste momento. Há 30 segundos não chovia. Olho para o quadro de avisos na parede da sala e releio pela enésima vez o “how things change!” de uma ilustração colorida. E não paro de pensar nas mudanças, na fluidez imprevisível do que nos rodeia. É quase dia, e não durmo de tanto processar mentalmente informações diversas. De vislumbrar as possibilidades de um futuro breve – tão incerto, tão arriscado – de repassar as decisões difíceis de um passado breve – tão nebuloso, tão confuso. Rascunho em pedaços de papel planos C e D, haja vista que já estou no B. Vez ou outra rio sem jeito da maneira como planejo o que não depende de mim. É tambem um exercício para entender o que tem acontecido. Quero compreender como tenho sido sacolejado pelos acontecimentos, muitos deles  provocados por mim mesmo. How things change! Traço linhas do tempo para relembrar a distância temporal entre os acontecimentos, e só consigo enxergar o não-planejado, o que caiu no meu colo, o que me foi tirado abruptamente, os tombos que levei, as oportunidades oferecidas de repente, as frustrações inevitáveis. É preciso planejar apesar disso. Tento me lembrar a última vez em que estive tão desnorteado. Não consigo identificar situações parecidas, tão intensas quanto esta. Mas logo me corrijo: a intensidade do desnorteamento é medido de modo bastante arbitrário, pois se trata do presente. E quando se trata de estar confuso com o turbilhão de informações e possibilidades, somente registramos tal intensidade no período de tempo em que a vivemos.  Depois, quando é passado, momentos como este ficam em nossa memória radicalmente suavizados. A resolução de problemas antigos parecem óbvias depois de alguns anos. As decisões tomadas em épocas passadas não mais parecem tão dramáticas, depois de esquecermos um pouco quais eram as outras opções, os riscos envolvidos, o peso nos ombros. Qualquer situação vivida agora nos parece mais intensa. Qualquer dor doi mais forte que as dores do passado. Qualquer preocupação perturba mais do que quaisquer aborrecimentos de outrora. Então abraço o meu desnorteio momentâneo na tentativa de deixá-lo mais leve. De contaminá-lo com algum otimismo que não seja burro. Agora, sim, já é dia. E não chove mais. How things change!

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