O fator tempo me desconserta. Não apenas pela estranhíssima percepção relativa que temos a respeito da velocidade, pelas horas de espera em consultórios médicos que parecem intermináveis ou pelas horas de lazer que parecem se esvair em um par de minutos. Mais do que isso, fico perplexo como, de fato, os acontecimentos podem variar de velocidade em uma escala extremamente larga, indo do imediato, quase instantâneo, o inesperado já, agora, até espaços de tempo muito, muito longos. Incomoda-me a nossa passividade obrigatória a respeito deste e de tantos outros aspectos do cotidiano.
É costume nos basearmos no histórico de situações semelhantes para calcularmos, de certa forma, uma média de resposta, uma previsão mais ou menos acurada dos retornos, das mudanças, das intempéries usuais. Talvez esse "método" seja eficaz quando se trata de operações bancárias, processos jurídicos, entregas de um fornecedor. Mas quando se trata da vida pessoal, e até dos fatores pessoais que envolvem o lado profissional, a verdade é que estamos muito mais vulneráveis à velocidade randômica dos acontecimentos.
Talvez seja o encadeamento dos inúmeros fatores que nos são invisíveis. Por sermos criaturas egocêntricas, enxergamos o "agora" como sendo tudo o que nos rodeia, e de fato o é, para nós. Mas também o presente é presente para todas as outras pessoas, sejam elas próximas a nós ou não. Combinados, o que acontece aqui, ali, acolá e em toda a parte nos coloca nessa posição passiva a respeito de quando, onde e como.
Pessoas se apegam a conceitos religiosos, a um suposto destino, sentem-se impressionadas com supostas coincidências. São caminhos mais confortáveis para lidar com nossa visível impotência. Por não trilhar nenhum deles, e ser bastante cético a respeito de quase tudo, resta-me apenas minha perplexidade.
Diante da falta de controle, o mais adequado, parece-me, é estar apto para improvisar. Esquivar-se, correr, desacelerar, dar meia volta, fazer o que for necessário para equilibrar a balança. São decisões tomadas a todo momento, e sempre, quase sempre em um piscar de olhos. Conscientes e inconscientes, elas nos levam para caminhos diversos e aí, sim, construímos o que por ora podemos chamar de destino (neste caso, como sinônimo de futuro, e não de algo pré-determinado).
Acontece que improvisar continuamente é tarefa árdua e por isso nos apegamos a convicções, a visões de mundo, ou quaisquer instrumentos desse tipo que nos deem algum balizamento para as repetidas tomadas de decisão, sejam elas imediatas ou de longo prazo. Seja qual for o caso, erramos bastante, e sequer percebemos os erros, tampouco temos oportunidade de aprender com eles.
Além do improviso, há as cartas na manga, a construção de cenários possíveis, e o consequente planejamento para múltiplas possibilidades. Ainda assim, somos pegos de supetão sistematicamente, e escorregamos diante das escolhas. Agimos precipitadamente em uns casos, ficamos passivos em absoluto em outros. Perdemos o tempo de resposta, chutamos cachorro morto, remediamos o que é saudável. E então surgem as consequências.
Muitos não suportam o peso dessa responsabilidade, e na tentativa de sentirem-se mais confortáveis simplesmente tiram-no de seus ombros. Perdidos e/ou assustados com a imprevisibilidade dos fatos, atribuem aos já citados caminhos mais fáceis, como a suposta vontade de algum deus, ou o próprio destino (aqui entendido como a ingênua percepção de que o futuro já estava escrito em algum livro mágico).
Engolidos pelo dia a dia, preferimos não pensar em nada disso, e tocar adiante da melhor maneira possível. Fechamos os olhos para o turbilhão de fatos aleatórios, não consideramos as conexões entre as muitas minúcias do cotidiano, o que nos leva a um irresponsável piloto automático que, sim, cumpre sua função ao manter o curso programado, mas como não somos aeronaves cruzando espaços aéreos, tal atitude nos leva a atropelarmos e sermos atropelados pelos maus improvisos (ou pela falta deles).
A boa notícia, enfim, é que não há solução nem fórmula mágica, certo ou errado. Obviamente, tenho minha maneira de lidar com o aleatório, com o improvável, com o imprevisível, com a falta de controle sobre o tempo. Mas não é a melhor, e jamais deve ser copiada. Incluo-me no conjunto dos extremamente incompetentes para improvisar sempre de maneira correta. Mais uma vez, o único registro adicional que faço é de minha inútil, incômoda e passiva perplexidade.
Não tenho conselhos para dar. Também não quero recebê-los de quem estiver disposto a compartilhar. Todos os que ouvi a esse respeito apenas contribuíram para minha percepção de que o tempo estava passando ridiculamente devagar. Não que eu faça questão de mais velocidade. Seguirei perplexo, improvisando como parecer mais conveniente.
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